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Economia verde: como fazer



Não será fácil, mas a economia vai mudar. Esta foi uma das afirmações mais comuns nas áreas em que foi realizada a Conferência Ethos 2011, em São Paulo

Foto por Fernando Manuel

Dal Marcondes, especial para a CE 2011

Não é uma receita de bolo. Tampouco funciona dentro dos parâmetros convencionais do business as usual, em que preço e qualidade são as principais variáveis. Muito além disso, será necessário o engajamento de cada um e a reflexão sobre os impactos de seus atos em todas as decisões corriqueiras do cotidiano. Um exemplo: um banho de 10 minutos com chuveiro elétrico ao final da jornada diária de trabalho tem um imenso impacto no volume de água disponível nas grandes metrópoles e exige que o país invista muito em geração de eletricidade para manter os chuveiros ligados. E isso foi visto e debatido em painéis da Conferência Ethos 2011, que aconteceu nos dias 8 e 9 de agosto, no Centro Fecomércio de Eventos, em São Paulo.

Considerada por muitos como uma das mais densas conferências de todas as 13 que o Ethos realizou, esta certamente registrou alguns avanços importantes. Os números impressionam. Mais de mil pessoas circularam entre os 14 painéis e as duas grandes plenárias, a de abertura e a de encerramento, dedicada à Rio+20, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que vai estabelecer o regramento institucional para a implementação global da economia verde. Os quase 200 jornalistas de todo o Brasil que cobriram o evento certamente levarão para seus leitores uma visão de mundo e do processo econômico diferente daquela que estampa a crise financeira e ética que vivem as principais economias do mundo.

Com o tema transversal “Protagonistas de uma Nova Economia”, a Conferência reuniu CEOs de grandes empresas, lideranças da sociedade civil e especialistas em muitos dos temas abordados, como água, energia, biodiversidade, florestas, direitos humanos, finanças sustentáveis, resíduos, trabalho e educação, entre outros, para mostrar experiências e estabelecer os rumos necessários em cada área para formar uma plataforma de sustentação para a mudança. “Não é uma transformação linear, não serão todos ao mesmo tempo, mas muitos já estão fazendo a diferença e liderando pelo exemplo”, explica Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituto Ethos, que juntamente com o presidente da entidade, Jorge Abrahão, e o presidente do Conselho Deliberativo, Sérgio Mindlin, formou a equipe de gestores que liderou o processo de construção desta Conferência. Isto porque este ano o Ethos inovou na forma de construir o evento. A escolha de temas e conferencistas foi feita por meio de um amplo sistema de consultas e parcerias, que envolveu outras 36 entidades, entre organizações da sociedade civil, empresas e organismos acadêmicas.

Para boa parte dos executivos de empresas, muita coisa vem sendo feita. Daniela de Fiori, vice-presidente de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade do Walmart Brasil, mostrou que há avanços importantes na construção de produtos de menor impacto, inclusive com a participação de empresas globais e marcas líderes em seus segmentos. No entanto, ainda falta uma métrica para a sustentabilidade. “É preciso mostrar para a sociedade que as opções de produtos e serviços de menor impacto estão disponíveis”, explica.

Outro ponto de forte relevância foi abordado pelo professor Ricardo Abramovay, que participou do evento em diversos momentos. Ele alertou sobre a necessidade de se trabalhar a consolidação de uma economia verde também sob o viés da inclusão e da redução da desigualdade: “é preciso colocar na mesa a realidade do aumento da pressão sobre os recursos naturais simplesmente pela inclusão de bilhões de pessoas, em toda a Terra, nos padrões de consumo que consideramos mínimos”. Isto significa que a redução do impacto por unidade de produto é importante, mas é preciso dimensionar o impacto dos bilhões de unidades produzidas e vendidas a mais. Um exemplo: nos próximos 20 anos, deverão ser colocados nas ruas do mundo mais um bilhão de automóveis.

Com a amplitude dos temas debatidos e a diversidade de atores presentes nos palcos e nas platéias, o Instituto Ethos pretende dar corpo a uma estratégia para colaborar com a pauta do governo brasileiro na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A oportunidade para isso se abriu quando a entidade foi convidada a ser uma das quatro organizações da sociedade civil a ter assento na Comissão da Rio+20, que está sendo coordenada pelo Itamaraty. Esta Comissão vai construir as propostas que o governo brasileiro deve encaminhar para a ONU até 1º de novembro deste ano, para que sejam analisadas e incluídas, ou não, na pauta final que será debatida por chefes de governo e de Estado de 193 países em junho de 2012, no Rio de Janeiro. “O Ethos está trabalhando para dar conteúdo e consistência às propostas, mas as organizações parceiras podem contribuir debatendo e incluindo suas redes de mobilização”, explica Jorge Abrahão. Ele lembra que o Brasil pode, por sua mobilização e por sua ação em direção a um modelo de desenvolvimento limpo, ousar em suas propostas. “E o Ethos está disposto a promover esse avanço”, diz.

Durante todos os painéis realizados na Conferência Ethos 2011, o público pôde interagir de forma efetiva e inovadora. Um sistema de consultas on-line, desenvolvido em parceria com a SAP Brasil, permitiu que fossem formuladas questões para a platéia responder. Isso serviu para tomar o pulso da Conferência e ponderar sobre o nível de conscientização a respeito dos diversos temas trabalhados. De forma geral, as pessoas que foram à Fecomércio já eram iniciadas nos temas da sustentabilidade e, portanto, com um grau de conscientização alto. Mas o sistema permitiu uma sintonia mais fina, com perguntas muito específicas sobre o que as pessoas estariam dispostas ou não a fazer por uma economia verde, e qual seria o nível de confiança nas ações de empresas e de governos, assim como sua capacidade de mudar comportamentos. O alerta é que as empresas ainda precisam aperfeiçoar sua comunicação da sustentabilidade e que os governos precisam aumentar a credibilidade e melhorar a qualidade de sua gestão.

Em 2012, a Conferência Ethos vai acontecer entre os dias 29 e 31 de maio, no Rio de Janeiro, para estar próxima dos principais atores e interlocutores da Rio+20. Será uma forma de garantir que debates fundamentais para a construção da economia verde não fiquem fora da pauta geral e se mantenham sob o olhar das empresas e dos meios de comunicação.

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(Envolverde)



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