voltar

Educação é indispensável na transição para um novo modo de vida



Especialistas defendem sistema universal, inclusivo e com maior participação da sociedade

Bernardo Toro: “O sistema educacional deve ser apenas um e incluir todos os que precisam dele” | Foto por Clovis Fabiano

A transição para um modelo que proporcione condições dignas de qualidade de vida na Terra passa obrigatoriamente pela educação. Os interessados na discussão perguntam-se “quais os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para uma sociedade sustentável?, que processos educacionais podem ajudar a construí-los?”. Neste espírito, o grande resultado do painel “Educação para a sustentabilidade”, no segundo dia da Conferência Ethos 2011, 9 de agosto, é a sua continuidade pós-evento. A abrangência dos debates, que contemplaram abordagens multifacetadas, estimulou o moderador do encontro, Ricardo Young, conselheiro do Ethos, a convidar o grupo que compôs a mesa a apresentar propostas consolidadas para a Rio+20, aprofundando os anseios expostos durante o encontro.

Ao abrir o painel, Ricardo Young já observava que, “se desenvolvimento sustentável é solidariedade com as gerações futuras, não há solidariedade maior do que a de prover crianças, jovens e os que ainda virão ao mundo dos saberes necessários para a construção dessa nova sociedade”. Foi dentro desta perspectiva que Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano, demonstrou que a dicotomia entre educação particular e educação pública, presente em toda a América Latina, não leva à construção da sociedade que precisamos. Na verdade, esta divisão provoca fraturas indesejáveis.

Pautado pelo imperativo ético como base para uma nova educação, Toro indica que velhos paradigmas devem ser rompidos. “Precisamos nos reconhecer como espécie, iguais entre si. E, a partir disso, reconhecer que ou aprendemos a cuidar ou perecemos”. Na visão do educador colombiano, “é preciso que tenhamos apenas um sistema educacional, de alta qualidade, não importa por quem seja administrado. Caso contrário, continuaremos a perpetuar o atual sistema exclusivo”, no sentido de não incluir todos o que dele necessitam.

Em sua intervenção, Antônio Carlos Caruso Ronca, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), falou sobre o enorme esforço que se tem feito nesta instância para se oferecer uma condição, ainda que básica, à capacitação no ensino fundamental, para o universo integral dos jovens brasileiros. Em um sistema em que apenas 10% dos alunos têm mais de quatro horas diárias de aula, “uma educação que contribua para a sustentabilidade precisa ter seu conceito encarado como valor”, acredita Ronca.

Vontade de fazer política

“A educação brasileira melhorou muito nos últimos 17 anos, mas continua uma catástrofe.” Com base nesta afirmação, Fernando Rossetti, secretário-geral do Grupo de Fundações, Instituições e Empresas (Gife), abordou os recursos do setor privado que vêm sendo aplicados de forma suplementar no setor público. Um dos movimentos mais importantes hoje no país, o Todos pela Educação, nasceu justamente no setor privado, em uma demonstração de colaboração intersetorial para elevar os níveis educacionais brasileiros.

Nesse ponto do debate, Ricardo Young perguntou aos participantes da Conferência: “precisamos ter o setor privado ainda mais envolvido nas iniciativas educacionais para se complementar as iniciativas públicas de forma a dar um salto na qualidade da educação brasileira?”. A posição foi de claro apoio: 75% votaram sim. À questão seguinte – “a crise civilizatória é oportunidade para aglutinar jovens em torno de novas formas de participação política? –, os presentes manifestaram 91% de concordância plena ou parcial. A posição foi compartilhada por Rangel Mohedano, consultor em políticas públicas de juventude e meio ambiente, para quem “a juventude é a geração estratégica na transição de modelos civilizatórios”.

Roberto Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, reforça a participação da categoria nas discussões por uma educação para a sustentabilidade. “O papel dos educadores é fundamental nesse debate, pois conhecemos o ambiente escolar”, disse. Quando questionados se “os educadores vêm tendo o papel que deveriam ter na formulação das propostas para a Rio+20”, 96% dos presentes responderam não.

Acerca da sociedade participativa, a opinião de Vera Masagão Ribeiro, diretora executiva da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), é de que “o espaço mais propício para a educação é o uso da política na realização do exercício da cidadania”. Entenda-se política, neste caso, como espaço de diálogo. “A vontade de fazer política não cabe mais nos partidos nem nos sindicatos.”

Acompanhe o desdobramento destes temas pela cobertura online e contas no Twitter – #cEthos2011 e Facebook – Instituto Ethos

(Envolverde)



© Copyright 2011, Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Todos os direitos reservados.