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A busca da paz, um anseio planetário

Denise Ribeiro, para o Ethos

Pela reação emocionada da platéia, que aplaudiu de pé o teólogo Leonardo Boff, ficou claro o quanto o mundo moderno anseia por lições de paz e democracia. A palestra do professor, que falou sobre o quarto princípio da Carta da Terra, relativo à democracia e à cultura da paz e da não violência, magnetizou a audiência na tarde da quinta-feira, 13 de maio, segundo dia da Conferência Internacional 2010 do Instituto Ethos.

Na abertura da palestra, a escritora e cofundadora do Instituto Palas Athena, Lia Diskin, disse que a sociedade busca vias de recuperar a confiança e o respeito mútuo para fazer frente à violência, matéria-prima da mídia, das conversas, das produções cinematográficas. “Vida é relação, é o cuidar, é o encontro”, diz ela.

Boff, depois de relacionar os vários tipos de democracia, afirmou que floresce na América Latina um tipo único de democracia participativa: a comunitária, cujo pressuposto é o bem-viver. “Não é o viver melhor, em que a maioria paga o preço pelo o conforto de poucos. Mas um sistema ensinado pelas populações indígenas, que se baseia na economia do suficiente e do decente para todos e não na economia da acumulação”, explica.

Para o teólogo, essa democracia nascente não é antropocêntrica, garante os direitos da Mãe Terra e caminha para a “superdemocracia planetária”, nem que para isso tenhamos, antes, de correr o risco de aprofundar ao máximo a crise em que estamos inseridos. “Sairemos fortalecidos, atentos a valores éticos, a um modo de vida sustentável e à necessidade de gerenciar, juntos, os escassos recursos que temos”, argumenta.

No entanto, a transição para esse novo patamar está assentada sobre dois pré-requisitos: biorregionalismo, em vez de globalização, que desconhece a riqueza da diversidade e os limites do ecossistema, tolerância e não violência. Esses são os caminhos da construção da paz plena, conectada com nosso interior, nas relações com outras culturas, com a Terra e com todo o universo do qual fazemos parte.

“Construímos máquinas mortíferas, capazes de extinguir a humanidade e que atinge, em 96% dos casos, a população civil. A paz verdadeira é a plenitude, é o bem mais desejado pelo homem, mas requer outro modelo de desenvolvimento. Vivemos uma paz armada, um permanente estado de sítio”, alerta o teólogo.

Segundo ele, enquanto continuarmos a celebrar, nas festas nacionais, apenas militares, banqueiros e grandes empresários, em vez de filósofos, místicos e professores, prevalecerá a lógica da acumulação e da concorrência. “Para alcançar a verdadeira paz precisamos ter consciência de que é preciso aceitar as contradições da condição humana (“somos anjos e demônios, sapientes e dementes, escuridão e luz”), reforçar o lado luz e fortalecer o jogo das relações (conosco, com os outros homens, com a natureza).

Boff ensina que a chave da paz está nas lições “abertamente cósmicas e quase utópicas” do profeta Isaías, de Cristo, de São Francisco de Assis, de Gandhi, de dom Helder Câmara e de Chico Mendes. “Quem contrapõe o perdão à ofensa, a união à discórdia, a fé à dúvida, cria espaços onde a paz se realiza. Cultivar ressentimentos incita ódios que novamente se transformam em guerras. Não tememos a escuridão porque amamos as estrelas”, ensina Boff, em sua mensagem humanística.

Ele terminou sua palestra dizendo que precisamos enriquecer a razão intelectual com a razão do afeto e a razão sensível, símbolo da espiritualidade: “Temos fome de transcendência e de Deus, e essa fome é insaciável”, concluiu, para o deleite de uma platéia emocionada. (Envolverde)

Imagem por Clovis Fabiano

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