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A escolha dos produtos é um ato político

Silvia Marcuzzo, para o Ethos

A luta pela sustentabilidade se resolve com obstinação, persistência, ética e coragem. E, principalmente, protagonismo. As pessoas precisam assumir seus papeis de cidadãos conscientes. O discurso eloquente do jornalista André Trigueiro durante o lançamento do Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo, na sexta-feira, 14 de maio, último dia da Conferência Internacional 2010 do Instituto Ethos, foi nesse sentido. O apresentador do Jornal das Dez, da Globo News, e comentarista de sustentabilidade da rádio CBN usou frases de impacto e trejeitos que moveu a platéia a aplaudi-lo de pé.

Trigueiro disse coisas que muitos sabem, mas poucos falam publicamente.  Como criador e editor do programa “Cidades e Soluções”, que já atingiu 160 edições, criticou a administração  dos municípios, fato comprovado pela recente pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Uma das conclusões do levantamento foi que as prefeituras não realizam planejamento estratégico, não têm metas e nem cumprem prazos, quesitos indispensáveis para qualquer gerenciamento. “Temos gestores do século 20, mas não gestores do século 21. Não temos mais tempo, precisamos buscar uma gestão pública sustentável”, apontou o jornalista.

E lembrou que, na Rio 92, já estava comprovado que o desenvolvimento atual é ecologicamente predatório, socialmente perverso e economicamente injusto. “Não parece que em 20 anos se tenha corrigido o rumo”, observou. Revelou também estar preocupado com a utilização descuidada do marketing “sem o devido lastro da sustentabilidade”. Citou o caso do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), cuja propaganda, na avaliação de Trigueiro, tem mensagens que não condizem com o seu comportamento. Ele confessou que, ao se deparar com o anúncio, lembrou imediatamente do fato de o banco ser não apenas apoiador, mas financiador de quatro frigoríficos que tiveram envolvimento com o desmatamento ilegal da Amazônia. “Usa o marketing da sustentabilidade e financia boi na Amazônia”, alfinetou.  Ainda acrescentou que o BNDES é avalista da polêmica usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. “Isso é uma crítica construtiva”, observou, já que o banco foi anunciado como um dos apoiadores do grupo de trabalho de empresas e desenvolvimento territorial sustentável do Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo.

Jornalismo pela sustentabilidade

O também professor de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ contestou ainda o conceito de imparcialidade quando isso se tratar com sustentabilidade.  “O jornalista do século 21 precisa se posicionar, sim”, afirmou categoricamente. Trigueiro disse que a defesa da sustentabilidade é de interesse público. “Não existe jornalismo ascético”, arrematou.

Como o jornalismo, os ambientes urbanos não podem ficar de fora do engajamento em defesa do equilíbrio do planeta. Ele listou exemplos que podem guinar o rumo das cidades. O emprego de tecnologias em construções sustentáveis é um deles – a construção civil é a atividade que mais usa recursos naturais, uma das maiores lançadoras de CO2 na atmosfera, desde a extração de matérias-primas, fabricação de produtos, até a operação dos edifícios.

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A ênfase de Trigueiro foi justamente o foco de seus programas de rádio e televisão. Defendeu a necessidade de se pensar mais nas demandas urbanas, pois quase 85% da população brasileira vive nesses ambientes. Para ele, mediar os conflitos poderá ser a forma de corrigir os rumos da civilização – com diferentes tecnologias – a fim de se evitar o colapso. Mas, para acontecer essa revolução, é fundamental uma postura pró-ativa do consumidor. Para Trigueiro, o consumidor precisa saber a origem dos produtos, o que requer transparência dos segmentos empresariais sobre suas cadeias produtivas. A responsabilidade da iniciativa privada tem ainda outros desafios, como conscientizar seus fornecedores para que compactuem com sua visão.

Entre tantos atores envolvidos nesse processo de mudança, o consumidor é o que tem o maior poder. É ele quem decide o que comprar. “O consumo, a escolha dos produtos, é um ato político. Precisamos aprender a não consumir as quinquilharias que o mercado nos inunda e afoga”, sentenciou. E deu exemplos, como optar por produtos cujas embalagens sejam menos prejudiciais ao ambiente. No caso da caixa de ovos, ele prefere a de papelão às demais de plástico ou isopor. E concluiu: “No nosso tempo de vida, não vamos ver todos os resultados. Mas precisamos plantar todas as sementes”. (Envolverde)

Imagem por Clovis Fabiano

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